sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015

O problema do nosso basquete também é cultural.



         Sou administrador de empresas, formado pela Universidade Federal de Lavras. Quando cursava o sexto período, tive aulas de RH e, em umas delas, fizemos simulações de entrevistas de emprego. Um estudante era entrevistador e outro entrevistado. Fui entrevistado. No decorrer da simulação, mencionei que havia sido jogador de basquete antes de entrar na universidade. A reação do entrevistador foi de falar comigo que isso não tinha nada a ver com as minhas habilidades profissionais e que era irrelevante para o processo. No momento, pensei: - Esse retardado mental não sabe o que está falando! 
Não falei nada com o entrevistador na hora, porque se começasse a falar, iria acabar batendo nele, tamanha era minha raiva com sua ignorância mental. Mas passados muitos anos e muito mais experiente, percebi que esse pensamento é da cultura brasileira e não apenas de um individuo isolado. 

         Como as aulas de educação física (quando tem), em 97% das escolas brasileiras, não passam de bobas recreações ou aulas para ficar atoa, o brasileiro não possui uma cultura esportiva. Ele não entende que o esporte dá para a pessoa disciplina, espirito de equipe, competitividade, saúde mental e física e vários outros atributos que são essenciais para um profissional ser bem sucedido. E são exatamente esses atributos que as grandes empresas procuram para contratar seus profissionais.
            
          Não é por acaso que nos EUA, maior economia do mundo, os profissionais que foram atletas, são os mais valorizados. Lá, como a cultura do esporte é amplamente difundida, onde todos fazem e vivem o esporte desde criança, as pessoas entendem o quão benéfico é para o ser humano, ter feito parte de uma equipe de competição de qualquer modalidade. 

          Mas voltando ao nosso basquete, o que isso influencia? Tudo! E serve para todos esportes fora o futebol.

  • Os pais que não tiveram uma educação esportiva apropriada, não acham que seus filhos terão alguma vantagem se participarem de uma equipe de competição, o que diminui  muito o número de praticantes. E é da quantidade que vem a qualidade.
  • Com o número de praticantes baixo, as empresas não investem no basquete, pois a massa que irá atingir com patrocínio é pequena e não vale o dinheiro investido.
  • Por não ter tido uma visão esportiva desde cedo, os profissionais de marketing, que definem os patrocínios, não irão fazer uma campanha  voltada para um negócio que eles próprios não acreditam.
  • Por ter poucos patrocinadores e pouco público, as grandes redes de TV não falam de basquete e tão pouco transmitem os jogos, o que causa um gap ainda maior da modalidade no país. 
         E se fosse ficar falando de tudo que essa falta de cultura esportiva, teria que escrever uma bíblia.
         Espero que um dia essa mentalidade mude e consigamos ter um país com uma cultura esportiva forte e consequentemente, um país melhor.

Abs

Marcelo Frieiro

Um comentário:

Mazza disse...

Posso dizer que a mentalidade de apoiar o esporte é presente aqui em Sydney, Australia. O CV vai muito além da formação e das notas escolares, e os entrevistadores buscam qualidades que não estão no curriculo formal do candidato. Ter sido atleta (profissional ou não) conta, e muito, na seleção de um profissional exatamente pelas razões citadas no artigo.